28.12.06

From the west unto the east

eu quero é dar o fora

2006, um ano mais imaginado que existido; mais repensado que vivido; mais restaurado que construído; doído, doído, doído; que fique aqui morto e enterrado, abandonado numa estrada vazia no meio de algum deserto inventado, pra que não saia, não vaze, não estrague mais nada.

2006, você fica e eu vou. rumo a. to indo. fui.

2006, vá pra puta que o pariu.

15.12.06

I'd rather dance than talk with you

[16:31:56] Mr. Mojo Rising: viu nosso horóscopo, né?
[16:32:00] Eva_é, e não é: non
[16:32:15] Mr. Mojo Rising: veje
[16:32:26] Eva_é, e não é: ai
[16:32:35] Eva_é, e não é: caralho
[16:32:49] Mr. Mojo Rising: fudeu

dmtr.org
daí que há tempos achando a vida chata, fui notar que o horóscopo é que não mudava. ou estaria quebrado; ou eu, de ansiosa, lia o mesmo várias vezes naquele dia; à espera de um milagre, reload,-reload-reloadava. sinto muito, não dá em nada. mas uma hora atualiza, e !como é boa essa palavra - com quem mesmo eu falava sobre? e dos clãs que não sentem dores*, museus da latinoamérica e das mudanças climáticas que melhoram a vida sexual das focas pardas. sim, sou vidrada** em notícias, ('atualidades'). e gentes, mas hoje precisei de espaço (quando não tem espaço tem ponto). e pontofinal, que é o que acaba - ou então limpa o salão pra começar outra dança.

impermanência, conheço um de teus nomes. ele me diz das certezas e eu tento não dar risada. e por isso não tenho medo, já morreu o que me assustava. e o que mais tem na noruega, øye? peixes na neve, silêncio, suecos, pianos, guitarras?

sim mas, e agora [sempre ouço] o que eu quero mesmo-mesmo? e a resposta esquiva e tarda. [....................] mas depois vem borbulhando: 1. quero um espaço sem pontos; 2. quero um vão pras minhas palavras; 3. uma trilha ensolarada; 4. música boa no ouvido; 5. quero dançar sobre tudo; 6. coca com gelo, limão espremido [não lembro mais que música era, tanto. mas juro que não era pouco.]

no cemitério percebo:
sofre-se a ausência dos mortos.

* morreu ao pular do telhado no dia em que completava 14 anos, deixando um par de cientistas desolados
** diz verdades e resgata antigas palavras


26.11.06

I'm not sleepy and there is no place I'm going to


 
todo dia é dia dela
pode não ser pode ser
abro a porta e a janela
todo dia é dia d.

há urubus no telhado
e a carne-seca é servida
um escorpião encravado
na sua própria ferida
não escapa, só escapo
pela porta da saída

todo dia é o mesmo dia
de amar-te, a morte, morrer
todo dia menos dia
mais dia é dia d.

9.11.06

SE ELA DANÇA, EU DANÇO


 
chegou madrugada
e o ipê florido debruçou-se na janela
fim da rua tava em festa
tristonho ele queria ser o sonho dela
quem dera os olhos que debruça em mim
fizessem-me acordar mais uma primavera.

6.9.06

Hang on to your emotions


presente é presente · seja uma música ou um aonde · (avec, ever) · ou uma frase e meu rumo · o frio e o trânsito e eu não · ô madrugada fria da moléstia - fecha essa janela, moço · this place is empty · sempre tem gente demais · cento e quatro emepetrêis do johnny cash e eu aqui · tenho botas e um chapéu · um violão sem corda ré · e uma caixa é só o que resta · ou que falta · as músicas todas ou parte · uma história · as coisas todas em seus lugares · e os lugares presentes das coisas · (onde estão? como sempre, se ajeitando. aqui. sempre aqui.)


11.7.06

VA BENE, TOUT VA BIEN

You met me at a very strange time in my life.
 
- You met me at a very strange time in my life.

20.6.06

SÃO DEMAIS OS PERIGOS DESTA VIDA

tyson, com amor

quando
chega sangrando
aberta em pétalas de amor.

16.6.06

ian

'crianças, vou contar uma historia'
'era uma vez um urubu'
'ele nao comia nada morto'
'nem vivo'
'por alguns minutos'
'daí ele morreu'
'os outros urubus o comeram'
'fim'

13.5.06

assista

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?

[William Blake]

13.4.06

A luz que sai do olho

Em seu novo filme, Arido Movie, o pernambucano Lirio Ferreira atira no que vê e acerta no que não vê


"É, e não é. O senhor ache e não ache. Tudo é e não é"
(Guimarães Rosa)

"Nada vai mudar" anuncia o homem do tempo, protagonista do filme, em uma das primeiras cenas. E é lançando um olhar de estranhamento sobre coisas que não mudam - como o sertão e a falta d'água, estruturas familiares, disputas de poder e destinos já traçados - que o cineasta Lírio Ferreira costura seu “bangue-bangue existencial científico-musical”, como ele mesmo define.



O tempo e o olhar são, na verdade, personagens centrais desse road movie de diversas viagens, reais e figuradas. Jonas (Gulherme Weber) - o homem do tempo - estrangeiro em sua própria pele, retorna às origens em Vale do Rocha - onde o tempo parou - para enterrar seu pai, assassinado. Seus amigos (o trio formado por Selton Mello, Mariana Lima e Gustavo Falcão) embarcam junto, mas cada um em sua viagem de destino vago, hedonista e emaconhado; e Soledad (Giulia Gam), documentarista pseudo-intelectual, roda o sertão em busca da relação entre a água e o poder; e se deixa seduzir pela conversa de Meu Velho (Zé Celso), profeta da água milagrosa e viagem mística-astronômica-apocalíptica, que dá a deixa: "o olhar é a luz que sai do olho". E ao derramar um olhar atento aos detalhes que compõem delicadamente cenas e personagens, descortina-se uma outra história - conduzida pelo índio Zé Elétrico (José Vasconcelos) - que flutua acima do pequeno drama de Jonas e sua família. A história das coisas que estão ali e ninguém consegue ver: pedras, paisagens, memórias, tramas.

No mais, a trilha sonora, que alterna Renato & seus Blue Caps e Os Pholhas com a nova safra de música pernambucana, entra no clima western do filme e bem se mistura com música ‘brega’, de puteiro. A fotografia, a cargo de Murilo Salles, mostra um sertão feio, real, estranho, glauberiano, sem deslumbre, sem verniz, sem ilusão e sem folclore, sem jegue nem carcaça de boi. Autêntico: ''Isso aqui é, e não é. Mas está sendo''.

Árido Movie é um filme de contrastes: entre nuvens virtuais e reais, entre falta de água e excesso de informação, entre capital e interior; onde sertanejos são astutos e os caras da cidade grande, ingênuos. No meio de tantas referências, citações, relações e duplos-sentidos, pra entender, em uma palavra: olhe.

27.3.06

TOO MUCH COFFEE



Eva_tout est factice diz:
lalalalalala
Eva_tout est factice diz:
(sorry, nao durmi NADA essa noite, nao fumo há quatro dias e estou em estados alternados de consciência)
|zm| diz:
alternados ou alterados?
Eva_tout est factice diz:
alterados e alternados
Eva_tout est factice diz:
tive uma discussao de relacionamento com um robô

23.3.06

MAS TÃO BONITO

ouça
  Robert Doisneau (1912-1994)

Há vários modos de matar um homem:
com o tiro, a fome, a espada
ou com a palavra
- envenenada.
Não é preciso força.
Basta que a boca solte
a frase engatilhada
e o outro morre
- na sintaxe da emboscada.

[Affonso de Sant'Anna]

20.3.06

FELIZ ANO, NOVO

o novo
não me choca mais
nada de novo
sob o sol

apenas o mesmo
ovo de sempre
choca o mesmo novo

(paulo leminski)

15.3.06

PEIXE-SE

kozyndan

, e no entanto, nada igual. desfolha-se a brisa - qual noite entreaberta; bandeiras ao tempo, suspiros em lá. a lua cheia encoberta. nosso movimento (órbitas sem centro) sussurra um alento espalhado no ar. aprendo a amar, sim, esse momento, como todos os outros ou, ainda mais. (há quanto tempo foi, tudo? quanto tempo ainda virá?) as coisas e seus valores: panos, lenços, aventais; lençóis, chegadas, partidas, quase-idas, vai-vens e ai-não-dá. (ah, dai-nos tudo, é tudo nosso! é tudo en-cantos, sinais, tudo em varais coloridos - tempestade a definhar - em panos limpos, macios, desenhado em traço fino, desajeitado hai-kai, nossas coroas de flores, reis sem reino, amor sem ai. quero tudo e quero agora, quero de-novo e de-mais.) desdobra a vela e te lança, estúpida nave, vai lá, rasgando as águas noturnas e silenciosas do cais; de onde lancei-me em mim mesma, afundei sem respirar, virei peixe, água, polvo, evaporei, deixei sais. ou, delicado origami, nasça em suave desdobrar, qual camélia despencada numa noite sem luar.

14.3.06

A VERDADE SOBRE OS FATOS

(capítulo II - a perguiça do criador)

Estando Deus® refastelado em recamiê eterno, teve sede. E pensou em todo o trabalho que tivera criando o mundo e todas as coisas. Exausto e desgostoso com tanta burocracia para conseguir o líquido sagrado, não teve dúvidas. Criou, à Sua imagem e semelhança, o Homem®; e o chamou de:

- Garçom!

E pediu-lhe uma Coca ("com limão e gelo, Senhor?", ah, como eram perfeitas todas as cousas), e outra e outra e outra. E outra, e outra e outra mais. Até que, tempos passados, o homem pensou que merecia um descanso. Então Deus® criou para ele o dia-de-folga, o churrasco e a laje; e ficou ali, a contemplar a Eternidade e toda Sua maravilhosa criação. Porém, entediado e sem mais gelo, pôs-se a divagar sobre qual seria a forma mais-que-perfeita. Foi quando criou a Berinjela©.

13.3.06

A VERDADE SOBRE OS FATOS

(capítulo I - no princípio era o caos)

A escuridão, as trevas, o negrume. Eis que então Deus® criou o abridor de garrafas. Uma simples e perfeita forma de aço. No segundo dia Deus criou o copo, cristalino e puro como o ar. E o ar, pra ter efeito de comparação. No terceiro dia, criou a pedra de gelo; e com os testes mal-sucedidos, os polos sul e norte. No quarto dia Deus® disse: haja limão; e limão houve. No quinto dia, Ele o fez em rodelas. E o espremeu. No sexto dia Deus® criou a sede, o Tim Maia e os motivos pra beber. Até que, ao alvorecer ressaquento do sétimo dia, com todas as coisas perfeitamente configuradas em formato de idílico paraíso domingueiro, sem que nada faltasse, sobrasse, estivesse quente ou sem gás, Deus® fez:

- Tssssssssssssss.

E a Coca-Cola™ se espalhou sobre a face da Terra.

[Continua! Não percam eletrizante relato sobre a criação do homem, a mulher e a berinjela!]

6.3.06

E É SEMPRE ASSIM


 
"às vezes eu fico imaginando de que forma que as coisa acontece... primeiro vem um dia; tudo acontece naquele dia. ate chegar a noite - que é a melhor parte. mas logo depois vem o dia outra vez, e vai, vai, vai. e é sem parar."

(Lígia, a loba do avenida - em Amarelo Manga)


NOBODY LOVES, NOBODY GETS HURT


Sossega, nega, não se morre de amor nos trópicos. (O tio tenta uma filosofia de consolação para a amiga que sofre e pena entre a Angélica e Augusta como se fosse num inferno verde de fitzcarráldica fábula babilônica labiríntica, danou-se! a menina nas asas da hipérbole-helicóptera.) Te juega, nega, aqui não se morre disso. Se o jovem Werther aqui fosse nascido, até choraria um tanto o seu infortúnio, mas já já algum vagabundo passaria na sua casa e eles iriam tomar um ele & ela (caldinho com cachaça) na Várzea ou no Pina, freguesia do Recife, iam tirar uma onda na barraca de Jesus ou no seu Rainha, na mesma cidadela invicta, iam tomar uma com Franciel, pura ingresia da Bahia, lá nas beiradas do mercado de São Joaquim. (...) Sossega, preta, roga uma praga neste peste e pronto, cai de novo na lama milagrosa do hedonismo. E se a vida atropelar, de nuevo, na mesma curva, anota a placa, menina, e arrisca no bicho.

[Não se Morre de Amor nos Trópicos, Xico Sá]

Recife a cinqüenta reais de distância, corações solitários. Vejam só que oportunidade.

3.3.06


O QUE RESTOU DA CAMISA



"Quando era criança eu queria ser um escritor porque escritores eram ricos e famosos. Eles ficavam em Cingapura e Rangoon fumando ópio em ternos de seda amarelos. Cheiravam cocaína em Mayfair e penetravam pântanos proibidos com um garoto nativo e viviam em Tânger fumando haxixe e languidamente acariciando uma gazela..."

[William S. Burroughs, em ensaio não publicado]

viu, Ronaldo? é assim que faz. ópio em cingapura, pântanos proibidos, gazelas. e não cachaça no Mercearia, domingão no Ibira, e... bem, as gazelas. me abstenho de comentários.

1.3.06

QUARTA FEIRA DE CINZAS NO PAÍS


ah que bom se sesse.
(e todos meus problemas ficassem resolvidos por decreto)

7.2.06

NÃO TER E TER QUE TER PRA DAR

sambando na lama de sapato branco, glorioso
um grande artista tem que dar lição
quase rodando, caindo de boca
mas com um pouco de imaginação
- sambando na lama sem tocar o chão

(mas olha só: por fora filó, por dentro, molambo, cambaleando no toró)

cantando e sambando na lama de sapato branco, glorioso
um grande artista tem que dar o que tem e o que não tem
tocando a bola no segundo tempo
atrás de tempo, sempre tempo vem
- sambando na lama, amigo, e tudo bem.
 

5.2.06

RABO DE PROSA

- Pois é, tô no ramo de cadeiras.

[Suspiro. Depois a maior falta de assunto de todos os tempos.]

- O importante é ver o cara sentado, né?

(do Conversas Furtadas)

2.2.06

DO AVESSO DO SER



as aspas quando voam milharais e sóis, vão sós e não luas - arde ser e fim; qual gaivotas tontas de ser mais de mim: embebedar-se é pouco, é morrer no verão, tropicar pouco a pouco - ou deixar-se ir ao chão? a verdade é o fundo da xícara, eu nunca quis ver; (como a marmota não vê sua sombra, anuncia o calor) não estamos mais presos no mesmo dia, talvez; isso é bom? eu não sei. bem queria escrever em forma de música, ter um sorriso simétrico, saber o que dizer. (¿chegou a hora? por supuesto señor, vai estar chegan-do)

sim, eu também quero mudar a órbita do mundo -- pulando

24.1.06

A VIDA COMO ELA É




(...) But according to Buddha there is also 'right intention'. In order to see what this is, we first must understand what Buddha meant by 'right.' He did not mean to say right as opposed to wrong at all. He said 'right' meaning 'what is,' being right without a concept of what is right. 'Right' translates the Sanskrit samyak, which means 'complete.' Completeness needs no relative help, no support through comparison; it is self sufficient. Samyak means seeing life as it is without crutches, straightforwardly. In a bar one says, 'I would like a straight drink.' Not diluted with club soda or water; you just have it straight. That is samyak. No dilutions, no concoctions - just a straight drink. Buddha realized that life could be potent and delicious, positive and creative, and he realized that you do not need any concoctions with which to mix it. Life is a straight drink - hot pleasure, hot pain, straightforward, one hundred percent.

13.1.06

Eva_love is like a bottle of gin diz:
Olha isso: "Ao invés de ser conhecida como uma referência de beleza, quero ser conhecida como referência de ser humano. Quando acordo de manhã e me vejo no espelho, não penso no creme que vou passar. Me pergunto como posso ser uma pessoa melhor." - Gisele Bündchen

zé_I don't want to be part of the human race diz:
uau. eu sempre penso se tem cigarro ou se eu vou ter que descer pra comprar .

11.1.06

Everybody needs to know it's the year of the rat


cabisbaixa era a rua estranha de um verão de sol sem nada. era o calor, que hoje volta (um dia foi? ou só o escondeu a geada?) era um caminho - esse mesmo - que inda leva, traz, e larga. e como tudo retorna, ou. nunca se foi, nem estava. é o verão: um ano, foi-se. tanto levou, tanto trouxe; nunca houve um não, não deu, não dava. ensolarou avenidas e fez sonhar com estradas. chorei, menos que devia - e sempre nas horas erradas. e foi tanto mar bravio, tempestade, tanta vaga; e tanto vão, de lembrar, tanto, tão - nem medo dava. tarde demais pra não ser, quando é só sim; me lembrara de como era - ou devia - como é bom ser, acordada. choveu tanto. e foram tantos: dias-é, azul-ficantes, azuis de céus, chãos, sacadas. hoje, não tenho mais planos - nem medos ou distrações - mas dinamite guardada.

(não atire na cabeça - os prédios caem, não adianta)
 

10.1.06

DA SÉRIE: PERGUNTAS SEM RESPOSTA

- Mãe, o que é uma pergunta?

 

6.1.06

ÀS VEZES PARECE UM OURIÇO


não saiba, não veja, não olhe agora. está doendo? já sara. não pense, não sinta, não queira. já passa. não viva, não vibre, não ligue. deixe assim como estava. não sangre, não grite, não morra. não fale mais, nada.

(nada disso.)