26.4.08

há uma sutil diferença entre vivos e mortos



Os mortos não vivem mais. Vivos não descansam em paz. Mortos não saem dali. Ninguém sai vivo daqui. Vivos não sabem viver. Mortos souberam morrer. Há vivos mortos. Há mortos vivos. Mortos não mais importam. Vivos não mais se importam. Vivos são quentes; mortos são frios. Vivos estão cheios. Mortos são vazios. Vivos vêm e vão, ouvem, sabem e vêem, ou não; pensam e fazem, com ou sem razão. Vivos erram e sentem muito. Mortos não erram, e não sentem. Vivos são, de verdade. Mortos, não mentem.

24.4.08

o destino me acomete


o rio que passa aqui embaixo
sempre correu para o mesmo lado;
e eu posso ir e posso voltar.

é o rio tão livre quanto eu,
ou serei eu preso no fluxo contínuo
como é o rio? *

ontem a terra tremeu e eu, embaixo dela, não senti nada. só tive uma vontade-ziiiiiinha de chorar duas vezes no final de um livro, quando sombra do menino envolve a dor que levaria para sempre. muitas vezes penso: o que foi que eu disse de errado? qual mancha eu deixei agora? então tento pensar nas coisas como se já fossem memórias, como um presente imperfeito, um futuro do pretérito.

mas puxa, todos tão bonitos e eu com esse medo. do futuro, do passado.

o que será que eu estava fazendo quando a terra tremeu? só soube mais tarde, como de costume: nunca estou presente nos grandes momentos da história. sempre distraída com algo, como naquela manhã sonolenta da queda das torres; como naqueles dias ótimos e hedonistas no reveillon do tsunami; e quando tudo foi embora naquele ano das águas que culminou com o rio mississipi levando em seu fluxo caixões, casas, entes queridos, anjos.

as coisas me chegam depois, já como histórias, «a menina morta», «o padre que se perdeu no mar numa noite de lua cheia preso a mil balões coloridos», «os ossos do polvo e o rei-peixe» e «como foi que eu cheguei aqui».

ou então chegam antes, como previsões, presságios, estúpidos prenúncios de apocalipse.

pois bem. entrando no inferno astral, este ano decidi jogar fora de vez qualquer bússola. afinal, não estarei, indo contra as previsões, apenas favorecendo as circunstâncias, como na lenda sufi? não saberei; nem dos perigos dos rios, nem dos fluxos, nem da segurança das pontes. pois, se for rio eu - peixe - nado, se for céu azul above us, te vejo, e se a terra tremer, eu danço.

* * *

("Obstinação em suas veias", Só o Abimonismo Salva, Abimonistas)

15.4.08

4:20 e uma pitada de civilização


«Ao terminar uma refeição, a pessoa deixa o garfo e a faca unidos em paralelo, dentro do prato, com os cabos apoiados na borda do lado direito, aproximadamente na direção 4:20 horas. A etiqueta recomenda que o lado cortante da faca esteja voltado para o interior do prato e o garfo, ao modo inglês, com os dentes para cima (Fig. 4), e ao modo francês, para baixo.

É considerado reprovável deixar os talheres inclinados, com as pontas apoiadas nas bordas, do lado de fora e de cada lado do prato, como as asas abertas de uma ave.»

«nesse site vc tbm encontra:
Filosofia Moderna, Filosofia Contemporânea, Temas de Filosofia,
Psicologia e Educação,
Boas Maneiras e Etiqueta, Contos,
Restauro, Genealogia, Geologia, Livros»


o mundo ficou mais fácil?
(não responda nos comments inexistentes, esta - e todas as outras - são perguntas retóricas)