29.9.07

AS FLORES DO MAL


Romero Britto não vê sentido em expor seus pesadelos. Seus temas favoritos são gatinhos, peixes voadores pulando, flores desabrochando, casais dançando. A declaração de intenções está estampada na parede da Galeria Romero Britto, situada na mais grã-fina das ruas paulistanas, a Oscar Freire, nos Jardins. O lugar é colorido por natureza, desde o quadrinho que diferencia o banheiro feminino do masculino até a mesinha em forma de flor onde apoio meu prosseco - e que custa a bagatela de onze mil e quinhentos reais. Estranhamente (ou não), situa-se nesse cenário a exposição "As flores do Mal", do rock-star e às vezes artista plástico Marilyn Manson.

A vernissage, aberta pra imprensa e (poucos) convidados e regada a uísque do bom mais a velha e boa tríade esfiha-quibe-risólis, foi tumultuada pela presença maquiada do astro, acompanhado de sua namorada, a atriz teen Rachel Evan Wood, e a previsível bateção de cabeça entre veículos altamente qualificados e tradicionais do circuito das artes, a saber: Amaury Jr e TV Fama, todos atrás da tão sonhada exclusividade. Mas pra quê? "Ai, vamos perguntar se ele arrancou a costela pra chupar o próprio p**?" planeja a irônica e animadíssima apresentadora minimamente trajada de estampa de onça enquanto ensaia caras e bocas pra sua atuação. Ah, por Deus. Atrás de um quilo de pó compacto também tem um cérebro, Mrs. oncinha. Mr. Manson é menos simpático do que deveria, mas mais do que deveríamos esperar. Assim como a carreira de artista plástico é alavancada pela de artista pop, também é soterrada por ela. Poucas perguntas sobre arte, muito preconceito e pagação.


O artista Brian Hugh Warner, a.k.a. Marilyn Manson, faz questão de expor seus pesadelos, em forma de auto retratos, projeções de sua prória velhice, morte, doença e vício. E exibe seu lado mais sombrio, além da música, em tintas leves mas de tons fortes, e figuras às vezes mórbidas, mas sempre de olhar penetrante, perturbador. Ao contrário de Britto, as cores de Manson transmitem toda sua inquietação interior. Pra quem quiser conhecer esse outro lado do artista, as telas da exposição “Fleurs Du Mal” ficarão à mostra até dia 19 de outubro. Já homem, o mito, esse segue seu rumo noturno. Sem caipirinha, brasileiros; sem samba, sem praia, sem sol; sem ao mesmo borrar o batom. Gente fina, entende?

Veja mais: http://www.marilynmanson.com/art/

3.9.07

assim o amor

Espantado meu olhar com teus cabelos
Espantado meu olhar com teus cavalos
E grandes praias fluidas avenidas
Tardes que oscilam demoradas
E um confuso rumor de obscuras vidas
E o tempo sentado no limiar dos campos
Com seu fuso sua faca e seus novelos
Em vão busquei eterna luz precisa

[Sophia de Mello Breyner Andresen]