17.10.16

o amor é um peixe grande

Sim, é possível morrer de amor. E a alma sabe disso. E os trovadores românticos tinham razão: dor de amor dói no peito. Sempre que penso em dores de amor, viajo diretamente às aulas de literatura nos tempos de cursinho pré-vestibular.

Imediatamente vem à minha mente as cartas de amor da Soror Marilena do Alcoforado, que se apaixonou aos vinte e poucos anos,  da sacada do convento, pelo oficial francês Marquês de Chamilly, nos idos 1668.  Suas cartas de amor, encontradas séculos após sua morte, foram incluídas no bojo da produção literária do romantismo. Dá prá sentir a sua dor, seu desespero de amor, ao ler as suas cartas:

” (…) A tua ausência, alguns impulsos de devoção, o receio de arruinar inteiramente o que me resta de saúde com tanta vigília e tanta aflição, as poucas possibilidades do teu regresso, a frieza dos teus sentimentos e da tua despedida, a tua partida justificada com falsos pretextos, e tantas outras razões, tão boas como inúteis, prometiam ser-me ajuda suficiente, se viesse a precisar dela. Não sendo, afinal, senão eu própria o meu inimigo, não podia suspeitar de toda a minha fraqueza, nem prever todo o sofrimento de agora.”

Doença

Você certamente já ouviu histórias de pessoas que morrem de verdade ou adoecem profundamente após serem traídas ou abandonadas, ainda no dias de hoje. Pessoas  que sofrem desmesuradamente com a paixão ou com o abandono e chegam a sentir uma grande dor no peito, uma pressão uma sensação de opressão, como se o coração parasse de bater. Cuidado: isso pode ser um infarto.

Em 1990, médicos japoneses descreveram a “Síndrome de tako-tsubo”, carinhosamente chamada de “Síndrome do coração partido”: mulheres com mais de 40 anos que apresentavam no eletrocardiograma sinais de um infarto do miocárdio  após um rompimento amoroso. Tako-tsubo é o nome que se dá a uma armadilha para pescar tubarões.

Sim, o amor é um peixe grande e pode ser também uma grande armadilha. As mulheres estudadas não chegaram a morrer, mas ficaram com uma cicatriz física, uma marca indelével daquela dor da alma. Sobreviveram. Fico imaginando quantas e quantos já morreram de amor.

Paixão

Provavelmente, a única prevenção é não se apaixonar. E muitas pessoas, após diversas decepções amorosas, escolhem esse caminho: desistir. Mas há quem não desista  nunca e continue sempre correndo atrás dessa “dorzinha gostosa”, essa dor que é ruim, mas também pode ser boa.

Do ponto de vista médico,  há uma relação bem determinada entre esses eventos,  sendo a  depressão considerada hoje um fator de risco para o infarto. Antidepressivos não curam “dor de cotovelo”, mas se a pessoa estiver muito mal, se a dor da alma, a tristeza, não diminuírem com o tempo ou aumentarem, pode ser sim um sinal de depressão. E daí as pílulas da felicidade podem até funcionar.

Agora, se a dor da alma for tanta e vazar da alma para corpo e fizer o peito doer, corre num pronto-socorro e faz um eletrocardiograma, ok?

Marcelo Niel, paulista, 39 anos, é psiquiatra e psicoterapeuta, escritor, blogueiro e agitador cultural. Lançou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2010, o Prosas, Macumba e Cafezinho, pela Editora Scortecci.

http://www.paupraqualquerobra.com.br/2013/04/14/e-possivel-morrer-de-amor/#ixzz2cUNtWlwt

2.6.16

eu, tem dia



foto Ray Langsten

17.5.16



Parte do muro do cemitério do Araçá
caiu durante a chuva que atingiu a cidade nesta segunda-feira
e algumas gavetas com ossos tombaram na calçada.

E olha que essa foi a melhor notícia do dia até agora


Ele é esperto e persistente
Acha que nasceu pra ser respeitado
Ele é incerto e reticente
Acha que nasceu pra ser venerado
O palácio é o refúgio mais que perfeito
Para os seus desejos mais que secretos
Lá ele se imagina o eleito
Sem nenhuma eleição por perto
Ele é o esperto, ele é o perfeito
Ele é o que dá certo, ele se acha
O eleito

15.5.16

Se eu fosse dona de um meio de comunicação,
ia ter uma editoria chamada ¯\_(ツ)_/¯
ia usar de chapéu nas notícias ¯\_(ツ)_/¯
um carimbo pra usar no final dos vídeos ¯\_(ツ)_/¯
estaria liberado terminar os textos com ¯\_(ツ)_/¯
Mark Zuckerberg crie o botãozinho ¯\_(ツ)_/¯ pfv nunca te pedi nada.

11.5.16


como de costume,
certo está o Belchior

Conterrâneos Velhos de Guerra

Na ‪#‎DicadeDocumentário‬ de hoje fugirei um pouco dos óbvios 'O dia que durou 21 anos' (ótimo por sinal) ou outros sobre Golpes de Estado, aqui ou no mundo, de diferentes modelos - hoje podemos ver um ao vivo. Sugiro o excelente registro sobre a construção de Brasília: do projeto grandioso e utópico de cidade igualitária e democrática que, segundo o arquiteto Oscar Niemeyer falhou, à miserável vida das milhares de pessoas que a ergueram. Exploradas, escravizadas, massacradas, abandonadas à sua própria sorte, completamente à margem do novo Brasil que se anunciava. E pra quem acredita que os sistemas de saúde, educação, habitação, enfim, o país 'eram bem melhores antigamente': por favor, não deixem de ver. Mas prepara o estômago.



(via Bruno Torturra)

6.5.16

o importante é não perder o rebolado




Quem tava no volante do planeta
que o meu continente capotou
Me responde por favor

23.4.16

Já não odeio mais a minha voz, mas os meus cabelos.... afe.
No entanto, a materinha sobre o livro ‪#‎ToureandooDiabo‬ ficou ótima (como sempre, Arte 1) e eu expliquei tudo que tinha pra explicar: sobre o livro, os peixes, as coisas

Assistão:

18.4.16

"É preciso construir pontes e não erguer muros"
Não quero ponte nenhuma que me una a quem homenageia torturador, a racistas, a homofóbicos. Quero mais uma fileira de tijolos nesse muro. Um arame farpado. Uma cerca elétrica. Uma matilha de cachorros.

12.4.16

A Batalha do Chile Parte II - O Golpe de Estado

No capítulo anterior vimos como o Congresso Nacional paralisa o governo de Allende votando contra todas as reformas propostas por ele e cassando mandatos de um ministro atrás do outro, levando o país a um estado de completo caos.

Agora vou recomendar a parte II do excelente documentário A Batalha do Chile, onde uma greve de empresários donos das frotas de transportes paralisa o país e o negócio desanda de vez - apesar do apoio popular ao presidente eleito e à mobilização contra o golpe - graças à interferência dos militares, da mídia monopolizada controlada por um grupo de oposição e claro, dos Estados Unidos.

E o General Augusto Pinochet, até então leal ao governo, sobe ao poder após o Golpe de Estado que pretendia reestabelecer a ordem.

Pra quem tiver estômago, segue o link:




10.4.16

En la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
noches
poemas
.
Paulo Leminski

8.4.16

Milagre

Marquei mais um xiszinho no cartão fidelidade dessa temporada maravilhosa de shows do Fellini encerrada ontem.
Meu eu de 17 anos de idade está em festa.
É um milagre ainda estarmos vivos.
É um milagre.

7.4.16

A Batalha do Chile Parte I - A Insurreição da Burguesia

É um excelente documentário, mas poderia ser um filme de terror. Ou uma aula de como se acaba com um governo de esquerda democraticamente eleito através da combinação: boicote e embargo dos Estados Unidos e empresários + congresso paralisando medidas populares + manifestações e greves apoiadas por uma elite financeira - isso fora as divisões internas e o fogo amigo.

Só sei que é de chorar.

... e ainda tem a parte II e III, que eu estou com medo de ver.



31.3.16

Em 2005 foi criado o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto no dia 27 de janeiro, aniversário da libertação de Auschwitz em 1945, para homenagear vítimas do nazismo e lembrar dos horrores do nazismo.

No mesmo ano, Argentina criou um feriado, o Día Nacional de la Memoria por la Verdad y la Justicia, no dia 24 de março, aniversário do Golpe Militar de 1976, para que seja impossível não tocar no assunto. Milhares saem às ruas anualmente em memória dos milhares de desaparecidos e pra dizer: nunca mais.

Por aqui, o dia ideal para uma efeméride semelhante seria hoje, 31 de março, data em que o presidente João Goulart foi deposto e marca o início da Ditadura Militar e dos mais terríveis 21 anos da história do país.

Enquanto isso não acontece, vale aproveitar pra relembrar os fatos que ocorreram naqueles tempos e o que aconteceu a seguir: repressão, perseguições políticas, cassação de direitos individuais, entreguismo, crise econômica, corrupção, endividamento, censura, torturas, assassinatos. A lista é longa e triste. E o pior: não estamos imunes a repetir.

Pra saber mais:

Golpe Militar 1964 (documentário)


Jango (documentário)


A grande partida: Anos de Chumbo (documentário com depoimentos de vítimas da ditadura)


18.3.16



Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não?

17.3.16

O mito da cordialidade

"'Somos cordiais' significa em primeiro lugar que agimos pelo coração - mesmo quando odiamos. (…) Existe um ódio que Euclides da Cunha notou como se fosse do sertão, ao dizer que havia um encontro entre o Brasil do litoral, civilizado, do século XIX com o Brasil antigo, violento - como se o ódio não fosse uma característica do Brasil, e sim dos grotões. (...) 
Vocês devem lembrar que na escola não aparece a expressão 'guerra civil' em toda a História do Brasil. Nós não utilizamos essa expressão quando o Rio Grande do Sul se separa durante dez anos do resto do Brasil; não utilizamos essa expressão na Cabanagem, na Sabinada ou na Balaiada; não utilizamos na revolução de 1932. Todos esses movimentos são revoltas regenciais, movimentos constitucionalistas, abriladas, movimentos liberais. Nós vivemos 'agitações', nunca guerra civil. Ora, se guerra civil é uma guerra de pessoas contra pessoas de um mesmo país, nós temos vivido sistematicamente episódios de guerra civil; inclusive disfarçadas ou iminentes, como na campanha da legalidade ou nas reações, ainda que fracas, ao golpe militar de 64. (...) 
Evitar a expressão 'guerra civil' quer dizer que nós evitamos a denominação da violência. Conseguimos dizer apenas expressões eufemísticas, uma maneira de atenuar nosso horror estrutural a imaginar que nós sejamos violentos. (...) 
A questão crucial da história brasileira é de que a violência é sempre do outro; nunca é minha. Ela é sempre um espanto, sempre inexplicável, só tem sentido no outro. Então constato que, por incrível que pareça, nós somos um povo profundamente pacífico, cercado de gente violenta por todos os lados."

Vale a pena gastar horinha e meia nessa ótima palestra do historiador e comentarista do Jornal da Cultura Leandro Karnal sobre o ódio no Brasil x o mito da cordialidade brasileira (e do ser humano em geral) pra entender porque isso não é, nem de longe, uma novidade.
Cheguei em casa e tinha atualização do java

Cês não imaginam como eu fiquei feliz. Que bom que ainda podemos ter algumas certezas.

13.3.16

Os meios para a compreensão: a idéia e o indivíduo


"Em geral se aconselha a governantes, estadistas e povos a aprenderem a partir das experiências da história. Mas o que a experiência e a história ensinam é que os povos e governos até agora jamais aprenderam a partir da história, muito menos agiram segundo as suas lições. Cada época tem suas próprias condições e está em uma situação individual; as decisões devem e podem ser tomadas apenas na própria época, de acordo com ela. No torvelinho das questões mundiais nenhum princípio universal e nenhuma memória de condições semelhantes poderá ajudar-nos — uma reminiscência imprecisa não tem força contra a vitalidade e a liberdade do presente. Nada é mais oco do que os apelos tantas vezes repetidos aos exemplos gregos e romanos durante a Revolução Francesa; nada é mais diferente do que a natureza destes povos e a de nosso próprio tempo."

"Uma primeira olhadela na história nos convence de que as ações dos homens emanam de suas necessidades, suas paixões, seus interesses, suas qualidades e seus talentos. É como se realmente nesse drama de atividades todas essas necessidades, paixões e interesses, fossem a causa e o principal motivo da ação. É verdade que este drama envolve também objetivos universais — benevolência ou nobre patriotismo, virtude e objetivos esses deveras insignificantes no vasto quadro da história. Talvez se possa ver o ideal da Razão realizado naqueles que adotam tais objetivos e na esfera de suas influências; entretanto, seu número é mínimo em proporção à massa da raça humana e sua influência, proporcionalmente limitada. Paixões, objetivos particulares e satisfação de desejos egoístas são, ao contrário, formidáveis motivos de ação. Sua força está em que eles não respeitam nenhuma das limitações que a lei e a moralidade impor-lhes-iam e no fato de que estes impulsos naturais estão mais próximos da essência da natureza humana do que a disciplina artificial e maçante que tende à ordem, ao autodomínio, à lei e à moralidade.

Quando examinamos este mostruário de paixões e as conseqüências de sua violência, o absurdo associado não apenas a eles, mas até (diríamos antes especialmente) com os planos bons e os objetivos honestos e quando vemos surgir daí o mal, o vício, a ruína que ocorreram aos reinos mais florescentes que a mente humana jamais criou, mal podemos evitar encher-nos de tristeza com essa mancha universal de corrupção. E, como esta decadência não é obra da natureza simples, mas da vontade humana, nossas reflexões podem muito bem levar-nos a um pesar moral, uma repulsa pela vontade boa (o espírito) — se é que esta tem realmente espaço dentro de nós. Sem exagero retórico, um simples relato verdadeiro das desgraças que destruíram os mais nobres governos e as mais nobres nações e os melhores exemplares da virtude privada forma um quadro assustador, despertando emoções da mais profunda e mais desesperançada tristeza, sem a compensação de um resultado consolador. Podemos suportá-lo fortalecendo-nos contra isto apenas pensando que assim deveria ser — é o destino, nada se pode fazer. Por fim, saindo do aborrecimento com que esta dolorosa reflexão nos ameaça, voltamos à vitalidade do presente, para nossos objetivos e os interesses do momento. Resumindo: voltamos ao egoísmo que está na praia tranqüila, gozando em segurança o distante
espetáculo do naufrágio e da confusão."

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich, que não foi invocado a toa, em 'A Razão na História'

Obrigada, mundo, por ser assim.
não vou porque não
não vou porque não
não vou porque não
não vou porque não
não

11.3.16


‪#‎VoltaFamíliaTufão‬

6.3.16



recalque bombando por não ter tocado essa no show que eu fui :(((
que baita música, galere.

3.3.16

25.2.16

Rolam as pedras

Pra não dizer que o show de ontem foi perfeito, duas coisas que poderiam melhorar:

1) Essa música, This Place is Empty, deveria ser OBRIGATÓRIA em qualquer show dos Stones com mais de dez mil pessoas;

2) Ensinaram tanta coisa pro Mick Jagger falar em português, até beijinho no ombro, e não falaram pra ele dar uma dançadinha com BABYDOLL DE NYLON? PQP VCS.



21.2.16

Mississipi Goddam



Nina Simone, apenas com essa música, foi mais punk que Sex Pistols tocando God Save the Queen, mais contundente que Bob Dylan discursando contra a guerra, mais chocante que Roberto Carlos mandando tudo pro inferno, ou qualquer outro exemplo de letra-que-quebra-tudo que eu consiga me lembrar, de qualquer gênero musical.

A canção foi inspirada pelo atentado que matou quatro crianças negras numa igreja no estado do Alabama em 1963; e o grito-desabafo de revolta GODDAM teve um impacto enorme, ainda mais na voz de uma mulher negra em uma época em que segregação racial era lei. E isso foi só o começo da sua luta, que foi dura, longa e de fundamental importância.

Hoje é aniversário dela e só temos a agradecer.

Nina, que bom que você nasceu.

https://www.letras.mus.br/nina-simone/185487/traducao.html

7.2.16

1.2.16

E finalmente chegou fevereiro, também conhecido como O Mês Em Que Eu Vou Respirar O Mesmo Ar Que o Keith Richards.

Junto com ácaros e bactérias de mais 30 mil pessoas, mas já e alguma coisa.

25.1.16



A última vez que passei por aqui foram muitas⠀
era tudo diferente, esse prédio, aquela casa⠀
isto era assim, aquilo era assado,
nem reparei⠀
na cidade como uma foto antiga⠀
ela cada vez mais nova⠀
eu cada vez mais velha⠀

(ambas um pouco pior)


Os passeiozinhos deste fim de semana/feriado, cheios de sol, chuva, música, amigos e encontros deliciosos foram basicamente uma clara demonstração do porquê desta cidade, mesmo feiosa e problemática, ser tão querida.

São Paulo
é uma coisa que só a gente sabe: é nois.

13.1.16

★ Look up here, I'm in heaven. ★



#RIPDavidBowie


Sei nem o que dizer a esta altura do campeonato.
Só lamentar.

Em mais um desdobramento da maravilhosa Obra da Vida e Morte do Artista David Bowie, sua ex-esposa, confinada em um Big Brother de celebridades, recebe a notícia de seu falecimento e, ao compartilhar a informação com sua colega, menciona apenas 'David is dead', o que causa uma certa confusão pois a mesma pensa que quem morreu foi David, outro participante do programa. Não percam mais esse eletrizante capítulo:
‪#‎literaturapraquê‬



On Celebrity Big Brother today, David Bowie’s ex-wife Angela told Tiffany (“New York”) that he died, and Tiffany thought she was talking about one of their housemates/players of the game - David Gest - and not David Bowie, and what happened after… was wild. I'm motherfucking screaming. This is a fucking iconic moment on television.
Publicado por Superficial em Quarta, 13 de janeiro de 2016