11.9.04

NALGUM LUGAR

Nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio

No teu gesto mais frágil há coisas que me encerram
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre
tocando sutilmente, misteriosamente
a sua primeira rosa

Ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte

Nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua intensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

Não sei dizer o que há em ti que fecha e abre,
só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas:
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas...

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