23.4.05

A AMOR É UMA DROGA



eles viveram um amor daqueles que deus, quem dera, quem dera não fosse, doído, amarrado, improvável, das bocas marcadas e portas fechadas, sussurros e nada. Abelard, filósofo, teólogo e professor; vinte cardeais cincoenta bispos e um papa ensinou, mas: ela. tão bela quanto inteligente, tão jovem quanto proibida. se amaram muito em segredo, um filho tiveram em segredo, casar em segredo, ah, Eloisa não quis. não quis que ele - tão tudo era - fosse tudo dela só. achou um pecado, é. mas a igreja era daquelas, do jeito que o ratzi gosta: nada, não podia. ultrajado, o cônego tio da moça mandou castrar o professor saidinho, que foi pra um mosteiro resignar-se, pecador, mea culpa mea. mas depois voltou a dar aulas e escrever livros, submetendo dogmas da fé católica à análise dialética da razão, tipo: heresia. portanto condenados ao fogo e seus partidários, excomungados. naquele tempo, note, século X. coisa séria. ela, claro, foi pra um convento onde passou o resto da vida maldizendo deus e trocando cartas com seu único e grande blá blá blá pra todo o sempre amor até que a morte os unisse em túmulo de mármore brilhante e eterno, desses pra onde turistas levam flores. amor entre mestre e aluna, dentro da igreja e na idade média? o papa não gosta. mas alexander pope sim, e no meio do tão lindo quanto extenso poema Eloisa to Abelard, surge o verso:

"How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd."

é, eu vi. É lindo.

[moral rasa da(s) histórias(s): você escreve cartas, poemas, bilhetes, eterniza; você rasga diários, esquece. qual você prefere? qual melhor te serve? (lembrar, esquecer, escrever, diários. estou me repetindo, é. nenhuma novidade.)]

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