15.12.04

CALOR

Sabe aqueles dias em que você não tem tempo nem pra ficar chateada? Sabe quando a melancolia é uma folha que caiu da árvore no outono e já é verão? Sabe como é quando o calor e a falta de café fazem sua cabeça doer doer doer? E eu já falei que existe um lugar onde tudo flutua? Onde a música é palpável e tudo o mais é em slow motion? Onde as pessoas entendem o que você fala e algumas chegam mesmo a entender suas ironias só com um olhar? Já contei da Dama de Copas? E de como ela venceu sete colinas e libertou os livros vermelhos da torre, sem a ajuda de ninguém, vestida apenas de guardanapos e origamis? É que ela tinha uma espada escondida debaixo das asas de girassóis... Eu pedi dois cafés, e um deles veio sem. Tomei olhando os ciprestes tristes, que entenderam que o dia deles já passou, que o tempo já correu, que o mármore ruiu, que a neve caiu, que as lápides estão lacradas, que as ruas estão vazias, que as veias estão vazias.

Mas como não tenho sentimentos, deixei o salgueiro chorar por mim.

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