todos tão bonzinhos
acariciam pés de alface entoando velhos mantras
e alimentando passarinhos;
varrem e içam as portas da casa pra brisa fresca entrar, ai
! tão evoluidinhos
mente e dentes brancos no varal bem afiados
sem pó nem ferrugem
sem fumaça, sangue ou tabaco;
usam chinelos pra entrar em casa
e alpargatas pra ir até a horta;
todos mandam muitos beijinhos
e alisam os gatos
comendo bons grãos, de soja e de trigo
tem sentimentos bons pra caralho
e amigos muito queridos;
todos são tão bonitos!
tão secos, limpos e asseados
que te deixam sujo, sozinho e ensopado
do lado de fora do mundo encantado
e a rota alma órfã escangalhada
, cuspida do avesso como as tripas do consomèe vespertino
e enquanto assistem o rasgar da carne dura na descida da ladeira
você fica ali na noite
cão sem rumo
a ouvir navios
mastigando as flores que ali estavam
! tão ajeitadas
recém colhidinhas
numa manhã natalina ensolarada
mortas afogadas em vaso cristalino
margaridas lobotomizadas
em cima da branca toalha de linho.