5.1.04

SIM, A ESQUIZOFASIA É ABIMONISTA, MAS...

O que é o Abimonismo?
(publicado originalmente no Faker Fakir)

por Bruno Torturra Nogueira*

A palavra surgiu antes. Guilherme Garbato, tecladista, saxofonista e pintor surrealista da banda Os Abimonistas, a cuspiu brincando, todo prepotente, supondo o termo que os críticos usariam para definir o que fazíamos naqueles tempos, há uns cinco anos. Anotamos a palavra. Meses depois, banda montada, o nome foi inevitável. Criava o tipo de estranhamento e curiosodade que queríamos, que resumia sem sentido algum as besteiras que cantávamos. Abimonismo não existia, portanto significaria qualquer coisa que a gente tivesse vontade de fazer. Babaquice, como se nota, e ingenuidade.

Com o tempo, nossas músicas e letras começaram a se alinhar dentro de temas e visões mais uniformes. Famílias disfuncionais, conformismo patológico, crenças estúpidas, sofismas existenciais e perversões ausentes de culpa. E com o tempo o Abimonismo foi sugando toda o sentimento de fé que vagava perdido em nossas almas atéias. Começou a pregação e o tom religioso para manifestar nossa nova fé, ainda sem alvo, mas com um nome.

Várias explicações surgiram, forçosamente complicadas e sempre insatisfatórias. Mas, ao terminarmos nosso CD, Só o Abimonismo Salva, percebemos melhor do que se tratava. Em nossas letras nada é realmente sério, nem as coisas mais graves e sagradas. A família não funciona, o ser humano é tosco, Deus é esclerosado, o amor é brega.

O abimonismo, no fim das contas, é a inabalável fé na descrença. E de tão descrentes, não levamos nem o abimonismo a sério. E, ainda sem muita definição ou conceitos, o Abimonismo toma forma em nossos corações, e nos corações de quem abimoniza-se, quando sentimos que a devoção praticante a nada parece ser o caminho mais certo nesse mundo tão alegre, bobo e miserável. E, insisto, não levem isso a sério. Seria uma verdadeira heresia.

*Bruno Torturra Nogueira é vocalista do Os Abimonistas

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