"Em geral se aconselha a governantes, estadistas e povos a aprenderem a partir das experiências da história. Mas o que a experiência e a história ensinam é que os povos e governos até agora jamais aprenderam a partir da história, muito menos agiram segundo as suas lições. Cada época tem suas próprias condições e está em uma situação individual; as decisões devem e podem ser tomadas apenas na própria época, de acordo com ela. No torvelinho das questões mundiais nenhum princípio universal e nenhuma memória de condições semelhantes poderá ajudar-nos — uma reminiscência imprecisa não tem força contra a vitalidade e a liberdade do presente. Nada é mais oco do que os apelos tantas vezes repetidos aos exemplos gregos e romanos durante a Revolução Francesa; nada é mais diferente do que a natureza destes povos e a de nosso próprio tempo."
"Uma primeira olhadela na história nos convence de que as ações dos homens emanam de suas necessidades, suas paixões, seus interesses, suas qualidades e seus talentos. É como se realmente nesse drama de atividades todas essas necessidades, paixões e interesses, fossem a causa e o principal motivo da ação. É verdade que este drama envolve também objetivos universais — benevolência ou nobre patriotismo, virtude e objetivos esses deveras insignificantes no vasto quadro da história. Talvez se possa ver o ideal da Razão realizado naqueles que adotam tais objetivos e na esfera de suas influências; entretanto, seu número é mínimo em proporção à massa da raça humana e sua influência, proporcionalmente limitada. Paixões, objetivos particulares e satisfação de desejos egoístas são, ao contrário, formidáveis motivos de ação. Sua força está em que eles não respeitam nenhuma das limitações que a lei e a moralidade impor-lhes-iam e no fato de que estes impulsos naturais estão mais próximos da essência da natureza humana do que a disciplina artificial e maçante que tende à ordem, ao autodomínio, à lei e à moralidade.
Quando examinamos este mostruário de paixões e as conseqüências de sua violência, o absurdo associado não apenas a eles, mas até (diríamos antes especialmente) com os planos bons e os objetivos honestos e quando vemos surgir daí o mal, o vício, a ruína que ocorreram aos reinos mais florescentes que a mente humana jamais criou, mal podemos evitar encher-nos de tristeza com essa mancha universal de corrupção. E, como esta decadência não é obra da natureza simples, mas da vontade humana, nossas reflexões podem muito bem levar-nos a um pesar moral, uma repulsa pela vontade boa (o espírito) — se é que esta tem realmente espaço dentro de nós. Sem exagero retórico, um simples relato verdadeiro das desgraças que destruíram os mais nobres governos e as mais nobres nações e os melhores exemplares da virtude privada forma um quadro assustador, despertando emoções da mais profunda e mais desesperançada tristeza, sem a compensação de um resultado consolador. Podemos suportá-lo fortalecendo-nos contra isto apenas pensando que assim deveria ser — é o destino, nada se pode fazer. Por fim, saindo do aborrecimento com que esta dolorosa reflexão nos ameaça, voltamos à vitalidade do presente, para nossos objetivos e os interesses do momento. Resumindo: voltamos ao egoísmo que está na praia tranqüila, gozando em segurança o distante
espetáculo do naufrágio e da confusão."
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich, que não foi invocado a toa, em 'A Razão na História'
Obrigada, mundo, por ser assim.