Há um dia
17.11.10
Milonga sentimental
hoje já faz um ano. foi assim, sem despedida, sem muito choro, sem explicação, sem nem mais tocar muito no assunto. era quase que esperado, implicitamente sabido, uma doença abstrata, inominável, indefinida; uma fuga do hospital que de tão cinematográfica parecia mais uma daquelas histórias levemente inverídicas com as quais estávamos todos acostumados. mas também estávamos mais que acostumados com seus freqüentes períodos de fraqueza, de recolhimento, semanas de isolamento e recuperação; e com seu habitual retorno à vida, à cidade, ao trabalho. e por aqui, sempre gritando ó de casa, trazendo presentes de rodoviária, revistas, cigarros. e por isso foi tão estranho receber a notícia, no meio da noite, que seu coração não batia mais.
tipo: ué.
[lentamente as coisas vão voltando pros lugares, os perfis de orkut vão perdendo o *luto*, a gente passa a se acostumar com a ausência, a não telefonar em fevereiro nem no dia dos pais nem no natal, nem pra comentar as agitações políticas e culturais e os sinais do fim do mundo, a não contar com ele nas festas em família, e o mais difícil, a viver sem seus conselhos - e não foram poucos os que precisaríamos este ano; e também passamos a ver que a família vai se virando bem e que afinal de contas, estamos relativamente bem encaminhados.]
mas eu fiquei um ano simplesmente sem saber o que dizer sobre isso.
[tristeza é obviedade. saudade é redundância.]
e foi um de seus velhos amigos, de um dos mais antigos que eu me lembro, aquele das partidas de pôquer semanais na cozinha de la abuela, que deixou comentado em uma foto no facebook exatamente aquilo que eu diria se pudesse, em uma última mensagem:
sem uma tradução razoável,
diz muito de como é ser o que somos;
argentinos.
pelotudos.
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lindo...
ResponderExcluirParece que a dor vai ficando mais forte a cada dia que nos damos conta de que ele se foi mesmo! ... Será? Ainda ontem o ouví exigindo uma mousse de chocolate! Carajo!
ResponderExcluirTu Milonga Sentimental es una esquizofasia tremendamente amorosa.
ResponderExcluirchorei...
ResponderExcluirFiquei tocada pela milonga sentimental e também pela "nao traducao razoável" dessa idiossincrasia louca de voces, os argentinos - coisa com a qual eu lido todos os dias e pela qual nutro uma mezcla de amor e ódio. Te quiero, boluda!
ResponderExcluireva, um beijo.
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