18.1.05

AO INFERNO, TODOS VOCÊS



"No Limbo era suspenso: eis requerido
Por Dama fui tão bela, tão donosa,
Que as ordens suas presto lhe hei pedido.

"Brilhavam mais que a estrela radiosa
Os seus olhos; suave assim dizia
De anjo com voz, falando-me piedosa:

_ "De Mântua alma cortês, que inda hoje em dia
No mundo gozas fama tão sonora,
Que, enquanto existir mundo, mais se amplia,

"Amigo meu, que a sorte desadora,
Pela deserta falda indo, impedido
De medo, atrás os passos volta agora.

"Temo que esteja tanto já perdido,
Que tarde eu tenha vindo a socorrê-lo,
Pelo que lá no céu dele hei sabido.

"Parte, pois, e com teu discurso belo
E quanto o salvar possa do perigo
Lhe acode; e me console o teu desvelo.

"Sou Beatriz, que envia-te ao que digo,
De lugar venho a que voltar desejo:
Amor conduz-me e faz-me instar contigo.

"Voltando ao meu Senhor, em todo o ensejo
Repetirei louvor, que hás merecido".

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[Aqui Virgilio conta como as adulações e os belos olhos de Beatriz convenceram-no a descer ao Inferno a fim de salvar o amigo dela, Dante, que andava só, perdido e em apuros. Como recompensa, o poeta ganhará um 'muito obrigado' e mais louvores. Bem, não acredite no meu tosco resumo. No Wikisource, braço literário da Wikipedia, você encontra o texto integral d'A Divina Comédia de Dante Alighieri, em duas colunas: uma em português (tradução de José Pedro Xavier Pinheiro), outra no melodioso e magnífico idioma de origem, o italiano. Aqui, as imagens clássicas de Gustave Doré e William Blake. E neste outro site, as gravuras que Salvador Dalí criou, inspirado na obra. Deleitem-se.]

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