Segundo uma lenda milenar, com origem em diversas culturas - celtas, gaulesas, latinas, ameríndias - a noite do 31 de outubro é a noite do ano em que a fina membrana que separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos está ainda mais tênue. Para os celtas, o Samhaim era a época em que as almas dos mortos retornavam a suas casas para visitar os familiares, para buscar alimento e se aquecerem no fogo da lareira; o nevoeiro mágico se dispersava e os elfos podiam ser vistos pelos humanos. A fronteira entre o 'Outro Mundo' (Sídhe) e o mundo real desaparecia. Há relatos desse tipo de festa também nas culturas da América Central muito anteriores à chegada dos Europeus. No México, a celebração começa nessa noite e se estende até o Dia dos Mortos. Segundo a tradição, nessa data os falecidos vêm visitar seus parentes, por isso é festejada com comida, bolos, festa, música e doces preferidos dos entes queridos.
A FESTA
O costume de fazer festa nessa data veio do medo de que as almas penadas aproveitassem a barreira frouxa pra fazer uma farra, vindo a se encostar nos pobres viventes desavisados. A ideia era juntar o bando para se proteger, com fogo, música e barulho, muito barulho. Os antigos acreditavam que, ao se fantasiar de seres das trevas, passariam desapercebidos em meio a outras assombrações.
Desde então, a tradição juntou-se a outras, e como todas as outras festividades pagãs, foi sincretizada, aproveitada e absorvida por católicos e capitalistas, misturada, distorcida e conspurcada; e quem vai na festinha na Pink & Blue ou aproveita as ofertas de sangue falso na 25 de março não está nem de longe consciente do que representa a data ou preocupado em manter uma tradição legítima - no entanto, ainda assim está contribuindo com sua barulheira para a verdadeira função social da celebração.
Portanto, seja vestido de Jack-o'-Lantern, bruxa, vampiro ou de Curupira e Saci, o importante nesse dia é festejar: pra afastar os maus espíritos, homenagear os que já foram e comemorar que ainda estamos do lado de cá.