31.1.07

We never did too much talkin' anyway




E assim o murmúrio das aves, o sussurro dos arvoredos e o fundo monótono e esquecido do mar eterno punham à nossa vida abandonada uma auréola de não a conhecermos. Dormimos ali acordados dias, contentes de não ser nada, de não ter desejos nem esperanças, de nos termos esquecido da cor dos amores e do sabor dos ódios. Julgávamo-nos imortais.(...) Nenhum de nós tem nome ou existência plausível. Se pudéssemos ser ruidosos ao ponto de nos imaginarmos rindo riríamos sem dúvida de nos julgarmos vivos. (...)

Desenganemo-nos da esperança porque trai, do amor porque cansa, da vida porque farta e não sacia, e até da morte porque traz mais do que se quer e menos do que se espera. Desenganemo-nos, ó Velada, do nosso próprio tédio, porque se envelhece de si próprio e não ousa ser toda a angústia que é. Não choremos, não odiemos, não desejemos. Cubramos, ó Silenciosa, com um lençol de linho fino o perfil hirto e morto da nossa Imperfeição.

Livro do Desassossego, Fernando Pessoa

26.1.07

E NO ENTANTO NADA IGUAL


leia na minha camisa: i love you

e é sempre outra cidade
vou escrever uma frase pra ler ao acordar
pensei em 'vivemos na melhor cidade'...
uma coisa bem beeeeeeeeeeeibe
assim você me comove
é tão bonita essa música
acho que foi a primeira música que eu achei muito bonita na vida
e por causa desse verso, da melhor cidade da américa do sul
eu me perguntava: mas gente! que lugar é esse
? que lindo!
Eva_it's alright, ma, it's life, and life only:
eu te contei dessa musica já?
nunca
conta
sabe na paulista, perto da brigadeiro luis antonio, tem um predinho com tijolos vazados amarelos - não sei explicar bem os tijolos, são de uma época, x. quando você passar por eles vai reconhecer.
eu tinha acho uns sete anos, tinha acabado de chegar no brasil
estávamos meio de favor aqui e ali, não lembro bem onde, mas era nessa área - comprávamos coisas pro café da manhã no jumbo eletro e saíamos pra andar
eu sempre usava umas camisetas brancas do meu pai como vestido
com um cinto vermelho de verniz
e lembro do sol da manhã batendo no rosto, na paulista
(o sol nas bancas de revista)
de olhar pra cima, pensando 'UAU'.
'a melhor cidade, a melhor cidade'
não sei da primeira vez que ouvi;
mas lembro desse momento, de ter sete anos e ter entendido tudo:
do sorvete, da lanchonete, do azul
da paz da cidade, da MELHOR cidade
dos tijolos amarelos e o sol batendo nos carros, a gasolina
e a camisa, e a cidade
a melhor cidade da américa do sul*
***
VOCÊ PRECISA
em um dia TIPICAMENTE PAULISTANO; que começou ensolarado, choveu, estiou; em um bairro em que foram ocupados absolutamente TODOS os lugares pra estacionar; em um parque de importância histórica às margens de um RIO MORTO; em meio a CINQÜENTA MIL PESSOAS que ilustrariam até pra um extraterrestre a verdadeira acepção da palavra DIVERSIDADE: freaks, modernos, góticos, goas, hippies saídos de alguma câmera criogênica setentista ('me acordem quando os mutantes se reunirem de novo'); de dreads, chapinha, trancinhas, chapéus, moicanos, gorros, bandanas, turbantes, bonés; cantando, dançando, andando de skate, namorando, jogando bola, com os filhos, correndo, fazendo malabarismo, subindo nas árvores, vendendo artesanato, fumando, a maioria ENCHENDO A CARA do vinho mais BARATO que eu já vi, MIJANDO no lugar errado, pessoas comuns na área vip, VIPs enfrentando a fila da entrada por horas (ah, as tradicionais FILAS paulistanas); e depois de assistir o doido Tom Zé loar a CAGANEIRA de Dom Pedro I, incitar a turba a protestar contra a globalização, contra o prefeito, contra o BUSH e contra a globo, que obviamente registrava tudo, só posso chamar de EPIFANIA o que eu senti ao ouvir os versos acima citados serem ENTOADOS, pelos sensacionalíssimos renascidos MUTANTES e por milhares de paulistanos - de nascença, por destino ou opção - bêbados, desafinados, emocionados, todos juntos somos nós, REUNIDOS, uma pessoa só, por ELES que sim, seriam e sempre serão: a tua MAIS PERFEITA tradução.

baby, baby, eu sei que é assim.



P.S.: Rita quem?

It's very nice pra chuchu

25.1.07



- demora anos pra ver a vida passar num segundo?
- não sei, ian
- é tipo uma doença, isso, aninha?
- nãaao ian, isso é o que acontece quando a gente vai morrer
- eu queria, ver a minha vida toda passar num segundo
- ia demorar menos de um segundo, porque você não viveu taaanto assim
- ah.

24.1.07

BENDITO SEJA SEU OVO


 

o que mais importa? temos um novo messias.

um, eu disse? foram cinco.

22.1.07

uns menos, uns mais, uns médios, uns por demais



"Love is a gross exaggeration of the difference
between one person and everybody else."
(George Bernard Shaw)
sim; mas e não é? essa eu li no blog dela, com quem eu falo de rabiscos, rascunhos e artes-a-final; cuidados com córneas e de como doem os olhos, de não ver. ela, que me ensinou you break my heart - I break your nose, tem nariz de pugilista e não sabe nada dos belos narizes que eu deveria ter quebrado mas nunca; e pensando bem, pra quê? não. brenda, bernie, não sou devota do exagero: mas de perto, até sem óculos eu vejo bem. às vezes é tanto contraste que brilha (e cega até, é, eu sei). chamariam isso de quê? se do outro lado do ringue, look at all the lonely people: diálogos de consoantes mudas entre nadas e ninguém; tangencia e não se ouve, passa perto e não se vê. daí algo até em silêncio grita sobre a manta de des-sutilezas das massas. chamariam isso de quê? tanto faz. hoje, não. mas tem dias em que eu acordo e penso 'está tudo bem'. verdade que eu queria que minhas palavras escritas fossem um violino em 'the swimming song'; e nadar mais e mais até chegar a algumas conclusões: 1) não se questiona uma cidade. 2) a fauna marinha é tão profunda quanto perigosa - livrai-me senhor das algas ferozes, das águas turvas, das fossas abissais. mas, quem dera ser um peixe: eu ainda quero mais.

21.1.07

It's a hard rain's a-gonna fall



- e se a gente jogasse a canela e o açúcar junto com o bolinho no óleo? grudaria melhor...
- hm, não acho que jogar açúcar direto no óleo seja uma boa idéia... não sei bem que reação pode dar...
- no Clube da Luta, o Tyler diz que dá pra fazer todo tipo de explosivos com ingredientes que qualquer um tem na cozinha... será que dá pra fazer uma bomba com acúcar e óleo fervendo?
- ... não sei aninha, mas esse é o tipo de idéia que eu não gostaria que você tivesse, ok?
- ok, mãe.

15.1.07

Cowboy Bebop


 
It's knowin' I'm not shackled
By forgotten words and bonds
And the ink stains that have dried upon some line
That keeps you in the back roads
By the rivers of my memory
It keeps you ever gentle on my mind

["Gentle On My Mind", de autoria de John Hartford (o bonitão da foto acima) foi escrita e lançada em 1967 (que safra esse ano, hein?) e fez sucesso na voz do Elvis em 1969; por falar em rei, Roberto e Erasmo Carlos fizeram a versão em português da música - o famoso hino  "Caminhoneiro". (todo dia quando eu pego a estrada / quase sempre é madrugada / e o meu amor aumenta mais). John declarou ter se inspirado para escrever a canção após assistir o filme Doctor Zhivago. Faz algum sentido? Respostas nos comentários, s'il vous plaît. Anyway, a letra é mesmo linda, e John Hartford, o novo habitante da área vip do meu iTunes » ipod » fones » coração (digam olá, rapazes).

Ouve mais aê: http://www.johnhartford.com/jukeboxxx.html ]

12.1.07

We're on a road to nowhere



três da madrugada / quase nada / a cidade abandonada / e essa rua que não tem mais fim // três da madrugada / tudo e nada / a cidade abandonada / e essa rua não tem mais nada de mim // nada / noite, alta madrugada / essa cidade que me guarda / que me mata de saudade / é sempre assim // triste madrugada / tudo e nada / a mão fria, a mão gelada / toca bem de leve em mim // saiba / meu pobre coração não vale nada / pelas três da madrugada / toda a palavra calada / dessa rua da cidade / que não tem mais fim / que não tem mais fim

que não tem mais fim.

11.1.07

Here I go down that [C] wrong road a-[G] gain

O Terminal Rodoviario Tiete conta com nove elevadores (incluindo um para deficientes físicos); 6 escadas rolantes; 42 relógios na área pública; 90 telefones públicos; 10 bebedouros e 938 assentos de espera.