Há um dia
22.3.04
YOKO ONO: A ARTISTA DESCONHECIDA MAIS FAMOSA DO MUNDO*
A maioria das pessoas, principalmente os fãs xiitas dos Beatles, têm mais de uma razão para não gostar da Yoko Ono. É chavão dizer que ela acabou com a banda, que pirou o cabeção já não muito bom de John Lennon e que seu único legado para a humanidade é meia dúzia de discos ruins e seu filho Sean, outro compositor medíocre. Mas a coisa não é bem assim. Essa japonesa de um metro e meio já era uma figura digna de entrar pra história da arte quando John a conheceu
Yoko Ono foi uma pioneira da arte conceitual. Freqüentou o moderninho Sarah Lawrence College, ninho de artistas de vanguarda. Era uma das principais integrantes do Fluxus, o grupo artístico e performático mais relevante das últimas décadas. John Cage dava aula de composição experimental em seu loft, freqüentado pela elite artística de Nova Iorque. Ela estava no lugar certo, na hora certa e, o que é mais importante, com a roupa adequada. Isto é: não muita.
Dessa época é a famosa obra Cut Piece - considerada uma das performances artísticas mais escandalosas até hoje. Nela, as pessoas iam cortando pedaços da roupa de Yoko até ela ficar nua. Em setembro deste ano ela repetiu a performance pra pedir paz no mundo. Porém, desta vez o strip foi quase totalmente inócuo, até porque os que esperavam ver sua nudez septuagenária viram apenas uma senhora de comportada lingerie preta - o que não é grande coisa, ainda mais nesse mundo em que a Dercy Gonçalves faz topless em rede nacional de TV por muito menos do que 'a paz mundial'.
FLASH ONO
Uma de suas performances consistia em deitar pessoas sob uma lona no meio da rua e convidar os passantes a pisarem nelas. Em 1963 se amarrou, vestida apenas com um pano, às estátuas de leões no Trafalgar Square. E trinta anos depois o mundo assiste entediado à moda efêmera dos flash mobs, pífios arremedos de happenings, com muito menos conceito e infinitamente menos humor.
Em 1965, ano em que os Beatles estavam lançando seu primeiro filme-fofo-de-valor-meramente-histórico, o inofensivo A Hard Day's Night, Yoko rodava um curta-metragem, Bottoms, que mostrava 356 bundas nuas caminhando. Isso nos Estados Unidos - país onde a bunda não é exatamente orgulho nacional [de repente descobrimos que tudo que achávamos moderninho na década de 80, como minimalismo, performances, ser videomaker, morar em um loft em Manhattan, etc. Yoko Ono já tinha feito na década de 60].
Seu pai era banqueiro, músico frustrado, e queria que ela fosse pianista ou cantora de ópera. Só que a menina tinha um gosto mais para Kurt Weill e Bertold Brecht do que pra Puccini. E pra piorar, queria ser compositora, ao que o tradicionalíssimo Sr. Ono retrucou: "Yoko, não tem muitas mulheres compositoras, reparou? Talvez porque elas não tenham o menor jeito para isso; são boas intérpretes, porém".
Cabe dizer que, desde a adolescência, a Courtney Love oriental vivia tentando se matar, se entupindo de pílulas e cortando os pulsos. Isso apesar de ter nascido cercada de luxo, glamour e riqueza - quando criança, morava em uma mansão, tinha trinta empregados, estudava na melhor escola do Japão e sua família é tipo descendente de algum imperador do séc. IX.
Yoko resolveu casar com o compositor japonês Toshi Ichiyangui à revelia de seus pais e toda sua tradição milenar. Praticamente deserdada, Yoko passou a viver de amor e da grana que conseguia dando aulas de sumi-ê, origami e música popular japonesa nas escolas públicas nova-iorquinas. Quando se separaram, Toshi voltou para o Japão e, por pressão de seus pais, Yoko foi atrás. Lá chegando entrou em depressão, e após uma overdose de pílulas, foi internada num hospital psiquiátrico, onde ficava sedada o tempo todo. Toshi pediu ajuda ao artista norte-americano Tony Cox, que teve que convencer o diretor do hospital de que ela não era louca, mas sim uma respeitada artista nos EUA, e a sutilíssima diferença entre um e outro. Durante um tempo, ela, o marido e Tony viveram juntos em Tóquio, em um relacionamento do tipo que não costuma funcionar, até ela ficar grávida de Tony e eles voltarem aos Estados Unidos e ao mundo encantado das artes de vanguarda.
JOHN QUEM?
John Lennon caiu de amores por Yoko ao ver, na Galeria Indica, em Londres, sua obra Ceiling Painting: a rigor, uma sala com uma escada no meio, e no alto dela uma lupa. Ao subir e olhar por ela, lia-se a palavra YES. John pensou: "Wow", seja lá o que ele tenha entendido disso. Na primeira oportunidade que teve, foi demonstrar o quanto pagava um pau pra ela - nunca o contrário. Yoko blefou, dizendo que nunca tinha ouvido falar dos Beatles.
Ela havia montado a pintura Painting to Hammer a Nail In, na qual as pessoas eram convidadas a participar, mediante pagamento de uma quantia simbólica. Lennon apareceu e perguntou se tudo bem se ele martelasse um prego na pintura. Ela disse que aceitaria, se ele pagasse. Ele retrucou se podia, em vez de pagar, martelar um prego imaginário. Hmmm. Truque baixo: "Encontrei um cara que joga o mesmo jogo que eu", disse Yoko, fascinada.
A paixão fulminante que uniu o casal acabou com o casamento de John e Cynthia e jogou a pá de cal no casamento de Yoko e Tony Cox, que fugiu com a filha deles, então com cinco anos. Ela só a reencontrou trinta anos depois - melhor pra pequena Kioko: nos anos seguintes John e Yoko enfiaram forte o pé na jaca, se viciando em cocaína, heroína e performances pacifistas. Bad trip.
CULPADA, MAS INOCENTE
Fãs alucinados dos Beatles (coisa mais chata) a chamavam de "Dragon Lady" e a acusavam de ter causado o fim da banda. Ponto pra ela. Quer coisa mais luxuosa do que ter acabado com a banda mais importante do século?
Em John Lennon ela encontrou um parceiro artístico: juntos, fizeram música, filmes experimentais, instalações e performances. Yoko achava a nudez um ato artístico e revolucionário e não se acanhou em mostrar lado A e lado B na capa do LP Two Virgins em companhia do maridão. Um verdadeiro atentado à moral: a capa e o conteúdo. Mas que era ousado era. E por falar em ousadia, seu curta-metragem Self Portrait (1969) retrata em 15 intermináveis minutos nada menos que uma ereção do John Lennon em slow-motion. E as fãs de John teimam em não gostar dela...
Nos anos 70, deixou de lado as artes plásticas e, com John, formou a Plastic Ono Band, uma banda conceitual sem integrantes fixos, da qual fizeram parte músicos como Frank Zappa, Eric Clapton, Ringo Starr e George Harrison. Ela usava uma voz gutural, que dava altos saltos e evoluia através de uma vibração muito forte. Lennon chamava esse estilo de "howling" [uivo].
O Sonic Youth, banda über-cool dos anos 90, incluiu uma composição de Yoko Ono no CD Goodbye 20th Century, onde interpretavam peças de música experimental compostas na segunda metade desse século. Em seu disco solo, o guitarrista Thurston Moore a homenageia com a canção "Ono Souls".
A música "Walking on Thin Ice", dela e John Lennon, foi remixada recentemente pelo Pet Shop Boys. A cantora apresentou a nova versão pela primeira vez ao vivo na madrugada do dia 19/02/03, quando completou 70 anos de idade, em um clube de Nova York, ao lado do DJ Danny Tenaglia. Ela está gravando, junto com os caras do Yo La Tengo, a faixa "Hedwigs'Lament/ Exquisite Corpse" trilha do cult Hedwig and The Angry Inch, de John Cameron Mitchell.
Apesar de tudo isso, Britney Spears nunca ouviu falar em Yoko Ono. Sobre a questão se ela seria a "Yoko Ono" de Justin Timberlake, do N'Sync, teve que admitir que não a conhecia. "Desculpa, sou muito novinha", explicou.
Enfim, se o sonho acabou, não foi pra Yoko Ono: "Eu era artista antes de John, fui artista durante os anos que nós vivemos juntos e sou artista agora".
* * *
(*) nas palavras de John Lennon
(publicado originalmente na Radar Interativo # 4)
18.3.04
AVISO AOS NAVEGANTES
Esse blog ficará sem atualização enquanto o BBB estiver no ar. Até mesmo vícios tem lá sua escala de prioridades.
5.3.04
TRISTE HISTÓRIA DE AMOR
Não é nada fácil ser princesa em uma época em que nem a Barbie fica casada mas não precisava se jogar da escadaria grávida porque o príncipe orelhudo sonhava em ser o tampax de outra moça na verdadeira triste história de amor. Sim, porque enquanto o mundo inteiro simpatizava com a loira sofredora, sem sal e boazinha Diana, quem comia quieta e escondida era a sorumbática Camille, que levava pra casa e pra cama o melhor que o Charlie tinha para dar, embora acredito que isso não fosse lá grande coisa. Ainda assim, viver um amor escondido durante 20 anos não deve ser melhor nem pior do que ver seu marido apaixonado por outra. Ainda que ele seja o príncipe da Inglaterra.
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