4.6.14


ROMERO BRITTO, o rei das cores


"A minha arte é sobre o amor e a alegria."
Existe uma conexão entre um brasileiro que pinta seus móveis e seu carro com aquela estampa inconfundível, de cores vibrantes, e outro que enfeita seu muro, sua rua, sua casa, com o mesmo padrão.

Algo conecta profundamente dois brasileiros cansados do cinza da cidade e do bege sujo da sua pobreza e que procuram reformar o mundo carregando forte nas tintas e padrões, usando uma fórmula fácil, pueril - mas muito eficaz.

Existe sim, uma conexão firme, natural e sincera entre os dois; mesmo que o carro do primeiro seja uma Ferrari de 1,5 milhão de reais e a alegre estampa que enfeita a casa do segundo tenha vindo em forma de lata de panetone, copo de requeijão, ou seja apenas uma imitação.

Essa conexão existe porque tem a mesma origem, a mesma premissa, a mesma intenção. E principalmente, porque em ambos os casos, para seu  juízo estético, romerobrittozar o mundo significa: torná-lo melhor.
“Na condição de criança pobre no Brasil, tive contato com o lado mais sombrio da humanidade. Passei a pintar para trazer luz e cor para minha vida. Minha família era muito pobre. Criar era um refúgio: eu pintava um mundo colorido, diferente do meu”




Foi assim que essa identidade visual infantil, colorida e brasileira, com origem na periferia de Recife, chegou a Miami (nossa ensolarada e cafoníssima embaixada nos EUA), se meteu em galerias respeitadas, em casas de celebridades, fez a meia-volta e voltou pra se espalhar pelo seu país de origem. O bom filho à casa torna: os traços e a cor foram como influência, e voltaram como cópia.


Loja de artesanato local - Olinda, Pernambuco

E - para horror da elite cultural, de artistas conceituais mal remunerados, de designers minimalistas e adeptos do estilo nórdico de decoração - caiu no gosto popular.



E - os síndicos do bom-gosto curtindo ou não, achando que isso é arte ou não** - de um jeito torto, Romero Britto inventou (ou reinventou) a cara de um Brasil mais colorido.

Reproduzida, distorcida e replicada à exaustão por dentro ou fora das casas, em marcas famosas, semi-famosas, em artesanatos, móveis, cangas, panos de prato, pratos e copos, bolos, unhas, próteses dentárias, aventais, a tendência se disseminou de uma forma que nem em sonhos o artista que, quando jovem, pensava em ser diplomata 'para representar o Brasil', poderia imaginar.

A melhor obra do Romero Britto é justamente a que não é ele quem faz.


O avesso do avesso do avesso do avesso do avesso

(*) Galeria de esquizoídolos
(**) Para avançar na discussão estética, recomendo o texto "Por que é fácil odiar Romero Britto", de Rafael Trabasso, publicado no IdeaFixa